As Coisas Que Eles Deixaram Para Trás – 11

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– Você vai ficar bem sozinha? – Perguntou Edward.

O aeroporto estava apinhado de gente. Famílias passavam frenéticas de um lado para o outro com suas malas gigantes e suas crianças barulhentas e inconvenientes, correndo em desespero com medo de perder seus respectivos vôos.

– Não estarei sozinha. Tenho toda a equipe do jornal comigo. – Respondeu Victoria.

Ed assentiu com a cabeça. Nervoso por não poder viajar com sua esposa em um dos momentos mais importantes de sua vida. Preocupado com o que poderia acontecer sem ele junto para protege-la.

– E você. – Disse a moça. – Vai ficar bem sozinho?

Ele sorriu. Resolveu dar o troco na mesma moeda.

– Não estarei sozinho. Tenho essa garotona forte pra me proteger.

Ele segurava nos braços sua filha. Mariane, com poucos meses de vida. Embrulhada em um cobertor rosado como sua pele, dormia profundamente e sonhava com coisas que o intelecto adulto é incapaz de compreender.

– Ai, me dá um aperto no peito deixar vocês dois aqui. – Disse Victoria. Deu um beijo amoroso na testa da filha, e depois em Ed.

– E eu, não ganho um beijo não?

Era Jessica, chegando com a última mala de Victoria, junto com o resto da equipe de jornalismo.

– Jeeeeeeess! – Disse a ruiva, abraçando a moça com entusiasmo.

– Olá pra você também. – Disse a Agente em resposta. Se soltaram do abraço e se olharam por um tempo. Jessica, sem graça, quebrou o gelo. – Um Pulitzer hein? Quem diria? Parabéns garota. Você merece.

– Obrigada. – Disse a ruiva em resposta, fazendo uma reverência com o vestido como se fosse uma Lady numa corte inglesa.

Completamente sem graça, disse que é um trabalho em conjunto, que não era um prêmio dela, e sim de toda a sua equipe. Até porque, o Prêmio Pulitzer de Jornalismo não era dado à uma única pessoa, e sim ao jornal responsável. No caso, o primeiro jornal feito completamente para a Internet, o Arauto de Curitiba.

O anunciante do aeroporto disse através das caixas de som que o próximo voo para Nova York partia em cinco minutos. Todos começaram a pegar as malas e a acompanhar Victoria até a pista de embarque. Foi quando Edward teve uma ideia.

– Jess, segure a Mari por um momento? – Entregou a criança à chefe e retirou uma câmera fotográfica da mochila.

– Uma foto com nós quatro. Antes que você parta.

Eles se espremeram para caber no enquadramento da câmera digital, Ed estava com o braço estendido ao seu lado e levemente para cima. Foi o momento em que gravaram a recordação que agora descansa sobre sua mesa de trabalho da Agência.

Depois de despacharem as malas ao bagageiro, Jessica tomava conta da pequenina enquanto o casal se despedia.

– Tome cuidado lá fora, viu? – Disse ele.

– E você tome cuidado aqui. – Respondeu Victoria.

O casal estava com as mãos dadas, testa apoiada sobre testa, de olhos fechados.

– Ainda bem que Jess vai ficar aqui para me ajudar com a Mari. Tenho medo de fazer alguma burrada.

Victoria riu e o olhou com compaixão, uma das mãos em seu rosto.

– Seu bobão.

As palavras seguintes, sem Edward saber, foram as palavras mais importantes que Victoria já disse. Sem saber em como isso afetaria sua vida futuramente, agora com esta recordação elas servem de consolo. Servem como o caminho para ele se reencontrar naquilo em que se perdeu.

– Não precisa se preocupar comigo enquanto eu não estiver perto. Eu estou em boas mãos e sei me cuidar. Você dará um ótimo pai nesse meu momento de ausência. E mesmo de longe, saiba que estou pensando em vocês o tempo todo.

– Eu sei, eu sei. É que…

– Ei, para de pensar desse jeito. – Disse a ruiva com um sorriso sincero e divertido.

O anunciante fez sua última chamada. Victoria estava com pressa, não queria perder o vôo. Rapidamente deu mais um beijo na testa de Ed, e com a mão em seu rosto disse.

– Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Você vai ver.

E com isso, saiu correndo até o portão de embarque.

***

Agora, sozinho com seus pensamentos e lembranças naquela fria e escura noite de julho, Edward finalmente se reencontrava naquilo em que se perdeu. Segurava o pingente de Victoria com força, enquanto lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto, levando com sigo a amargura que sentia até pouco tempo atrás. Finalmente o destino lhe olhou com compaixão. Finalmente pode entender o que todos aqueles estranhos estavam passando. Finalmente ele e sua filha estavam livres do luto.

Ele teve seu momento de dor mais agudo agora que se lembrava de tudo isso. Foi o último desabafo de sua tristeza antes que ele pudesse abrir mão do sofrimento. Dizem que o choro dura uma noite, mas que a alegria vem pela manhã; que a noite é sempre mais escura logo antes do amanhecer.

Pelo jeito isso é verdade. O Sol nascia do lado de fora, iluminando e aquecendo a cidade abaixo de si; uma luz brilhava no interior daquele apartamento. Uma luz diferente, capaz de aquecer corações.

Pois, afinal de contas, vai ficar tudo bem.

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